As operadoras de plano de saúde no Brasil estão se especializando em mandar a qualidade dos serviços para o fundo do poço e os preços para a estratosfera. Apesar da avançada legislação federal em defesa do consumidor, em vigor há mais de duas décadas, e das recentes tentativas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de conter os abusos, os usuários não param de ser negativamente surpreendidos pelas empresas do setor. É o caso da proibição de aumento das mensalidades para beneficiários com mais de 60 anos, que não alivia os gastos com os idosos.
É preciso agir com rigor, não só monitorando os preços, como contendo abusos nas correções anuais. Em julho, a agência reguladora suspendeu as vendas de quase 40 empresas, mas o mês seguinte foi recorde de reclamações, a maior parte dela já banalizadas, como o desrespeito a prazos de atendimento em internações, exames e consultas. Pelo visto, a medida não teve força de convencimento. Responsável pela normatização e fiscalização da concessão pública da prestação de serviço essencial à sociedade, cabe a ANS se impor - com isenção e firmeza.
Surpreende que o setor invista contra a paciência do brasileiro. Afinal, os usuários no país são menos de 50 milhões, claro indicativo do enorme potencial de crescimento que representa para as operadoras uma população próxima de 200 milhões de pessoas. Mais: o mercado a ser explorado torna-se cada vez mais rico, com o fortalecimento da economia nacional, em especial a recuperação do emprego e da renda. Porém, ao desrespeitarem o consumidor, os planos dão um tiro no pé - inclusive por provocarem mais regulação do mercado.
As operadoras não podem se conformar em atuar nas rebarbas do apagão dos serviços públicos de saúde. Precisam, sim, valorizar o trabalho que prestam, oferecendo qualidade e ganhando a confiança dos cidadãos, o que não terão corrigindo distorções apenas mediante punição. Quanto ao estado, tem a obrigação de enquadrar o setor, caso esse insista em não se autorregular, e também de oferecer alternativas aos contribuintes que não puderem ou não quiserem contratar um plano de saúde. O fracasso nessas duas missões deixa o cidadão vulnerável e favorece a mercantilização da medicina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário