Não importa a ocasião: o o impulso de ir ao banheiro é irresistível. Contra a sua vontade, o indivíduo urina, a qualquer hora e em qualquer lugar. Segundo o urologista Rômulo Maraccolo Filho, do Serviço de Urologia do Hospital Universitário da UNB (HUB), a situação descrita acima é um importante sintoma clínico de incontinência urinária (IU). De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o problema afeta 50 milhões de pessoas em todo o mundo. As mulheres sofrem mais - cerca de 30% da população feminina com mais de 60 anos são acometidas pelo mal. Entre homens da mesma faixa etária, o índice chega a 10%.
A perda indesejada de urina pode até não evoluir para outras enfermidades mais sérias, mas tem como efeito colateral um constrangimento social sem tamanho. "Apesar de não apresentar um risco vital, a IU pode causar um grande impacto negativo na qualidade de vida nas pessoas acometidas", completa Maracollo Filho. "Elas podem, inclusive, desenvolver sequelas psicológicas severas e afastamento do convívio social e familiar". Fatores comportamentais, como levantar muitas vezes durante a noite para urinar, deixar de sair de casa e, até mesmo, depressão são algumas das consequências do problema.
O que é
A incontinência Urinária (IU) é um importante sintoma clínico e se caracteriza pela perda involuntária de urina. É dividida em três tipos:
- De esforço - É a perda urinária que ocorre com algum esforço físico, como quando a pessoa tosse, ri, faz exercício ou se movimenta.
- De urgência - Caracteriza pela vontade súbita de urinar que ocorre em meio a atividades diárias; a pessoa perde urina antes de chegar ao banheiro.
- Mista - Associa os dois tipos anteriores. O sintoma mais importante é a impossibilidade de controlar a perda de urina pela uretra.
Como acontece
- A incontinência urinária ocorre por alguma falha no sistema de armazenamento da urina (bexiga, uretra e musculatura pélvica)
- Localizado entre as coxas, na parte inferior da bacia, o assoalho pélvico é o grupo de músculos que controla o relaxamento ou a contração da uretra e do reto, além de dar suporte aos órgãos internos.
- No assoalho pélvico, os esfíncteres funcionam como válvulas.
- Uma vez frouxos ou enfraquecidos, esses músculos acabam permitindo vazamentos involuntários de urina.
Causas
- Distúrbios da musculatura pélvica e da uretra, como perda da força muscular, lesão do músculo em partos difíceis, cirurgias pélvicas, obesidades, etc
- Doenças da próstata
- Gestação, pelas alterações anatômicas e hormonais características dessa fase
- Alterações de controle da bexiga, como bexiga hiperativa (ela se contrai mesmo contra a vontade do paciente), que leva a IU de urgência
- Doenças neurológicas, como Parkinson ou Alzheimer
- Diabetes melito
- Genética
- Obesidade
- Determinados procedimentos cirúrgicos ou irradiações que danificam os nervos da região pélvica.
Diagnóstico
- Consulta médica especializada, na qual são detalhados e investigados os principais problemas clínicos, comportamentais ou anatômicos relacionados à IU.
- Podem ser necessários também exames de imagem (ecografia, tomografia computadorizada, cistografia) e funcionais (urodinâmica).
Tratamento
- Fisioterapia pélvica: exercícios para reforço dos músculos da pelve. Eficaz especificamente na IU feminina. Para gestante a fisioterapia pélvica pode tanto corrigir o problema como atuar preventivamente, fortalecendo os músculos pélvicos e corrigindo alterações comportamentais.
- Casos de IU de urgência são, na maioria das vezes, resolvidos com tratamento medicamentoso.
- Para casos que não respondem aos tratamentos menos invasivos, se pode usar aplicação periódica de toxina botulínica (botox) na bexiga.
- Tratamento cirúrgico: uma das técnicas é o sling sub-uretral, em que é inserida, por meio de pequenas incisões de 1cm, uma faixa de 10cm a 15cm de polipropileno ( o mesmo material dos fios cirúrgicos). A faixa é colocada na região púbica ou no períneo. Ela cria um suporte para a uretra e impede a perda urinária causada por esforços físicos.
- Outros tratamentos mais complexos são o implante de esfíncter urinário artificial ou a neuromodulação vesical.
Palavra do especialista
Porque mulheres tem mais incontinência urinária que os homens?
É uma questão de diferença anatômica. Os músculos da uretra do homem são mais fortes. Na vagina, há o espaçamento para passar o feto, por exemplo. Mas o problema da bexiga hiperativa ( que se contrai independentemente da vontade do paciente) atinge homens e mulheres. Nesses casos, os homens tem menos chances de perder urina, mas a urgência também existe.
Existe algum tipo de comportamento ou estilo de vida que torne a pessoa mais propícia a desenvolver o problema?
Não. Nada do que o paciente faça ou deixe de fazer vai gerar a incontinência urinária.Existem, contudo, casos de predisposição genética. Por exemplo, há mulheres que não deram a luz e, mesmo assim, tem incontinência. Ou seja, tirando a obesidade, nenhum dos fatores é controlável.
Crianças pequenas não exercem controle nenhum sobre a bexiga. Elas também pode ter incontinência urinária?
Só se fala em incontinência urinária infantil depois dos três anos de idade, quando a criança não consegue controlar a saída de urina durante o dia. À noite, é normal que a criança urine na cama até os cinco anos. Depois disso o caso merece alguma atenção e os pais devem procurar um urologista.
A incontinência urinária pode ter causas psicológicas?
Sim, mas são casos muito raros. Casos de ansiedade e/ou estresse podem influenciar no surgimento do problema.
Há algum tipo de incontinência urinária que não pode ser corrigido?
A maioria é corrigível, mas há casos graves que são mais difíceis, como em casos de doenças neurológicas, esclerose múltipla, derrame, fraturas na bacia ou lesões na uretra.
Fernando Almeida é médico urologista do Departamento de Urologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Fonte: Por: Gláucia Chaves/Revista do Correio
Para saber mais: http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?253
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