domingo, 9 de dezembro de 2012

Vitiligo. Acabe com o preconceito



As manchas esbranquiçadas não coçam, não ardem e não são contagiosas. Mas compromete a qualidade de vida de quem é portador de vitiligo.
Valdir Matos é funcionário público, tem 50 anos e mora no Rio de Janeiro. Marcos Vicente é fotógrafo, tem 43 anos e vive no Acre, os dois não se conhecem mas compartilham uma mesma história de vida. Ambos são portadores de vitiligo, doença caracterizada pela despigmentação total ou parcial da pele, que provoca manchas esbranquiçadas e atinge cerca de 1% da população mundial.

Waldir diz que as primeiras manchas surgiram na infância, por volta dos 5 anos, quando ele adoeceu, vitima de uma gastroenterite. "O vitiligo não coça, não arde e não pega. Mas deforma o corpo. Na época eu não entendia por quê , de uma família de seis irmãos, eu era o único portador da doença. A infância foi a pior fase. Eu me sentia excluído de tudo"., recorda.
Marcos começou a apresentar os primeiros sintomas da doença já adulto, aos 28 anos, após um divórcio. "O início é sempre complicado. Você não conhece direito a doença e vê seu corpo mudando. Para piorar, as pessoas ainda olham diferente para você. Mas, com o tempo, você aprende a lidar com o preconceito", garante.

Fator emocional
Ainda hoje, o vitiligo continua a intrigar médicos e psicólogos. Não se sabe muito sobre a sua orígem ou o que se pode fazer para evitá-la. Sabe-se, apenas, que distúrbios emocionais, como os enfrentados por Waldir e Marcos em diferentes fases de suas vidas, funcionam como "gatilhos" que acionam o aparecimento das manchas.

"O vitiligo está diretamente ligado ao estresse emocional", afirma Paulo Luzio, chefe do ambulatório de vitiligo da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. "Ter estresse é inevitável, mas a forma como se lida com ele pode ser trabalhada. Se você lida bem com o estresse, terá menor número de surtos e surtos mais suaves. Se lida mal, terá maior número e surtos mais agressivos", avisa.

Mas não é todo mundo que sofre de estresse que corre o risco de desenvolver a doença: somente os que tem predisposição genética. "A causa do vitiligo ainda é desconhecida. Muitas teorias como a autoimune, a neural e a citotóxica, entre outras, tentam explicar o porquê da perda de função dos melanócitos", explica Roberta Buense, especialista em vitiligo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), acrescentando que não existe um grupo que seja mais suscetível à doença. "O vitiligo atinge todas as raças, sexos e idades. Não há um padrão", assegura.

Doença autoimune
Das muitas teorias existentes para explicar a origem do vitiligo, uma das mais aceitas pelos médicos é a de que se trata de uma doença autoimune. Como diabetes tipo 1, lúpus, artrite reumatoide e esclerose múltipla. Segundo os especialistas, doença autoimune é aquela onde o organismo deixa de reconhecer células do próprio corpo e passa a produzir anticorpos para atacá-las. No caso do vitiligo, as células atingidas são os melanócitos, responsáveis pela produção de melanina, o pigmento que determina a cor da pele do indivíduo.



Geralmente, as manchas do vitiligo atingem, principalmente, as mãos, os pés, os cotovelos, os joelhos, o rosto e os órgãos genitais. Mas não é toda e qualquer mancha que indica que o indivíduo seja portador de vitiligo. Algumas delas podem ser provocadas pelo sol ou micose. Em caso de dúvida, o melhor a fazer é procurar o dermatologista ao menor sinal de mancha ou lesão na pele.
Mediante o diagnóstico clínico, o médico terá condições de examinar as lesões e determinar se o paciente é portador de vitiligo ou, então, se existem outras doenças associadas. Em alguns casos, ele pode até solicitar alguns exames laboratoriais para complementar o diagnóstico.
"Quanto mais cedo for feito o diagnóstico e mais cedo for iniciado o tratamento, maiores serão as chances de sucesso. Se tratado ainda no início, é possível controlar a progressão da doença", avisa Celso Lopes, especialista em vitiligo pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Tratamento individualizado
Feito o diagnóstico, Luzio explica que, antes de identificar o melhor tratamento, para cada pessoa, o médico precisa fazer uma avaliação, entre outros aspectos, o tipo de vitiligo, a idade do paciente, a fase da doença, as regiões afetadas e a extensão do comprometimento. Quanto ao tipo, o vitiligo pode ser dividido, a grosso modo, em dois: o localizado e o generalizado.

"A forma de tratamento é distinta: nos casos de vitiligo localizado, é recomendado uma medicação tópica. Quando se trata de vitiligo generalizado, a fototerapia é a primeira indicação, juntamente com vitaminas e antioxidantes", esclarece Roberta. Na maioria das vezes, os resultados dos tratamentos demoram e incluem desde a utilização de substâncias à base de corticoides até sessões de fototerapia com psolaremos.

No primeiro caso , os corticoides tentam impedir a destruição dos melanócitos pelos anticorpos e podem ser utilizados por via oral, injetável ou tópica. No segundo, os psolaremos são medicamentos que estimulam a proliferação dos melanócitos, mas, para agirem no organismo, eles precisam da exposição à radiação ultravioleta. Além dos tratamentos considerados convencionais a doença pode ser combatida, ainda, por imunomoduladores tópicos, terapia a laser ou intervenção cirúrgica.


"A cirurgia é indicada em casos restritos", pondera Lopes. "O procedimento consiste na retirada da pele de áreas saudáveis e da inserção dela nas lesões com despigmentação. A intervenção, geralmente, é indicada nos tipos localizado e estável de vitiligo. Ou seja, sem aumento ou surgimento de novas lesões nos últimos 12 meses", completa.

Quando o vitiligo atinge mais de 80% do organismo, uma das opções de tratamento pode ser a despigmentação total da pele. "Essa alternativa somente deve ser utilizada em casos bem selecionados, em virtude de complicações frequentes e de dificuldade na obtenção de resultados satisfatórios", alerta o especialista.

Cuidados básicos
Apesar dos danos estéticos que o vitiligo provoca na autoestima dos portadores, a doença não causa maiores prejuízos à saúde. Os médicos recomendam que os pacientes tenham cuidados com a exposição excessiva ao sol. Explica-se: uma das funções na melanina, além de determinar a cor de pele do indivíduo, é protegê-la da radiação solar.

Por isso mesmo, sem a melanina como escudo protetor, os portadores de vitiligo estão mais suscetíveis a desenvolver câncer de pele. "O uso de filtro solar nas lesões localizadas em áreas expostas é fundamental", salienta Roberta, que enumera outros cuidados básicos, como evitar lesões (cortes, arranhões e queimaduras) na pele e não usar roupas muito apertadas.

Combate ao preconceito

Seja qual for o tratamento adotado, os médicos recomendam que, em alguns casos, ele seja multidisciplinar. Em outras palavras: Além do dermatologista, o paciente precisa ser acompanhado também por um psicólogo. "É preciso avaliar o que leva uma pessoa a entrar em atividade. Se são problemas importantes, como morte ou separação, ou se são problemas cotidianos, como trabalho e família. Em alguns casos, o acompanhamento psicológico se faz necessário até para evitar recaídas desnecessárias", aconselha Luzio.

Waldir Matos concorda: "Aprendi a colocar tudo o que estava sentindo para fora. Não posso me dar ao luxo de sofrer calado. Se não coloco o estresse para fora, o vitiligo explode por dentro", explica ele, que encontrou o consolo que procurava contra o vitiligo  na prática diária de atividades relaxantes, como meditação e caminhada. Além disso, faz uso de medicação fitoterápica, que compreende um creme para passar no local das manchas e um comprimido para ser tomado após o almoço e jantar.

"Hoje em dia, relativizo tudo. Aprendi a não ver o vitiligo como um problema. Se não vejo o vitiligo como um problema, as outras pessoas também não veem. Procuro levar minha vida numa boa", ensina Waldir, que faz parte de uma comunidade virtual, (www.vitiligo.com.br), que se propõe a prestar esclarecimentos sobre vitiligo para outros portadores da doença.

"Sempre que posso, ajudo os outros a lidar com a doença. O pior inimigo do vitiligo é o preconceito. A pessoa pode até não falar nada, mas, só de olhar, já constrange o portador de vitiligo. Isso quando o sujeito não recusa a apertar a mão, troca de lugar no transporte público ou vira o rosto para quem tem a doença", lamenta.

Pensando assim, Marcos Vicente também ajudou a fundar a Associação de Portadores de vitiligo/Psoríase Mãos Amigas (www.vitiligoacre.blogspot.com). "Não é fácil lidar com o vitiligo, mas é possível. Hoje em dia, costumo brincar dizendo que já chamo a doença de "nem te ligo". A cura do vitiligo não está na pele. Está na alma", afirma.

Tratamento à moda cubana: bom, pero no mucho
A técnica de tratamento que levou muitas pessoas a Cuba é feita à base de melagemina, substância obtida a partir da placenta humana. Entretanto, na opinião do especialista em vitiligo Celso Lopes, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Ela não se mostrou superior aos tratamentos convencionais".

Nova esperança
Em agosto 2011, pesquisadores do Hospital e Escola Médica Gian Sagar, na Índia, descobriram que uma substância usada em colírios (bimatoprosta) para o tratamento do glaucoma pode ajudar no combate ao vitiligo. Segundo Sarita Bezerra, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), um estudo realizado ao longo de quatro meses com dez pacientes constatou a pigmentação em sete deles numa média de dois meses após o uso.

As conclusões do estudo foram apresentadas no Congresso Mundial de Dermatologia, em Seul, na Coréia do Sul. "Os pacientes com duração da doença inferior a seis meses foram os que responderam melhor a tratamento. Todas as lesões localizadas na face responderam melhor que as do tronco. Como resultado, os pesquisadores obtiveram 70% de resposta, sendo que 40% tiveram uma completa pigmentação e 30%, uma excelente resposta. Dos dez pacientes, dois relataram ardor, principalmente em áreas próximas à boca", analisa Sarita.

Fonte: por André Bernardo/Viva Saúde

Um comentário:

  1. There are some of the Vitiligo Natural Treatment that you can experiment with to keep the malady from quickly influencing on your skin and hair. 

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