segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Deputados: muita folga e bolso cheio





 Como prova de desrespeito a toda a sociedade a Câmara dos Deputados, sorrateiramente, como quem faz uma coisa errada, a Casa aprovou, nesta semana que passou, uma alteração em seu estatuto para dar amparo regimental a uma verdadeira agressão ao trabalhador brasileiro, obrigado a trabalhar em jornadas de 40 a 44 horas semanais de trabalho em troca do salário, com o qual ajuda a pagar a invejável, mas imoral, remuneração que recebem os representantes do povo no Congresso Nacional.
No dia 17 de outubro, por voto de liderança, um truque usado que livra os deputados de expor os votos à opinião do eleitorado, ficam todos eles dispensados da presença em Brasília às segundas e sextas-feiras. Na prática, mesmo antes da oficialização, raramente sessões eram marcadas para segundas e sextas-feiras. Além disso, as que acontecem nesses dias costumam ser debates e não votações, nos quais a presença não é obrigatória e a ausência não gera desconto no salário e vantagens do político, que lhes serão pagos integral e religiosamente em dia.

 Faltava torná-la oficial e indiscutivelmente remunerada. Em vez de condenar e dar o bom exemplo, o que a câmara fez foi oficializar a esperteza em cima do povo brasileiro, que paga caro, muito caro, para manter a atividade parlamentar, fundamental para o funcionamento da democracia. Muitos ainda tem a cara de pau de aparecer na TV se dizendo contra o projeto e blá, blá, blá, mas enfiará o polpudo salário no bolso e, com certeza, não irá dar o ar da graça nos dias citados acima. Aí vem o outro com história de que "o deputado tem que visitar as bases eleitorais..." Ora, tenha santa paciência!!

 Passamos nós agora a um raciocínio lógico, que não precisa ser matemático para ver/sentir o tamanho do rombo nos cofres públicos, senão vejamos: com o corte na jornada sem igual redução da remuneração, os deputados vão trabalhar em média 12 dias por mês, pelos quais terão salário de R$ 26.700,00, com direito a auxílio moradia de R$ 3.000,00 ou apartamento funcional, passagens aéreas, telefone, combustível, cobertura de gastos com escritório no estado de origem e mais - sempre tem um mais - R$ 60.000,00 mensais para contratar sem concurso até 25 assessores. A isso se soma a excrescência do pagamento do 14º e 15º salário, que em alguns setores foram eliminados, mas mantida por suas Excelências da Câmara dos Deputados, elevando para R$ 1.500.000,00(um milhão e meio!) por ano o custo de cada um dos deputados para o esfolado contribuinte brasileiro.

 A nossa democracia custa caro, muito caro. E a gente sabe que valeria a pena cada centavo pago caso viesse de lá o exemplo a ser seguido. Mas como funcionar bem, como esperar um bom desempenho com tantas mordomias? R$ 3.200,00 é o valor que cada deputado receberá por dia - eu disse por dia - para representar a sociedade na câmara. E o mais revoltante: 123 dias será o período trabalhado pelos deputados em 2013, levando-se em conta as sessões obrigatórias de terça, quarta e quinta-feira. Motivos não faltam para que os deputados trabalhem cinco dias por semana na Câmara.

 Só nos resta a esperança de que o eleitorado repita com os deputados a surra que aplicou nos vereadores de todo o país. Segundo cálculos da Associação Brasileira de Câmaras Municipais(Abracam), 70%deles não foram reconduzidos. Eles pensavam que a crônica aversão ao trabalho vinha passando despercebida. Daqui a dois anos teremos eleições. Espero que o povo coloque a mão na consciência e pense um pouco antes de dar o seu voto a um candidato a deputado federal. Temos regalias demais e trabalho de menos. 

Para se ter uma ideia, dos 513 deputados, apenas 8(oito!!) tiveram 100% de presença nas 177 sessões deliberativas(quando há votação) na atual legislatura. Desde fevereiro de 2011, Alexandre Leite(DEM-SP), Jesus Rodrigues(PT-PI), Lincoln Portela(PR-MG), Manato(PDT-ES), Pedro Chaves(PMDB-GO), Reguffe(PDT-DF), Salvador Zimbaldi(PDT-SP) e Tiririca(PR-SP) não faltaram as reuniões. Os que faltaram não tiveram problema: receberam integralmente seus salários, com certeza!! A presença nas votações é obrigação do parlamentar. Infelizmente, nem todos pensam assim!

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