quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A água subterrânea pode acabar?



Estudo publicado pela revista Nature Geoscience aponta para o risco de as reservas de água do planeta entrarem em colapso. Problema está em má gestão do recurso hídrico, aliada aos efeitos das mudanças climáticas. Debaixo da terra sólida, existe a maior reserva de água potável do mundo, que se transforma, nos dias de hoje, no maior tesouro desejado, principalmente, por produtores agrícolas em todo o mundo. Milhões de litros, diariamente, são retirados do solo para que se possa produzir alimentos para a população de todo planeta, um método comum e de baixo custo, mas que está cobrando o seu preço. Uma análise publicada no dia 09 de novembro de 2012 na revista on-line Nature Geonscience alerta sobre a possibilidade de faltar água de forma permanente em algumas fonte, pelo uso sem planejamento pelo homem  e também pelos efeitos da mudança climática.


Segundo os atores do artigo, é necessário ação rápida para que os níveis de água possa ser estabilizado e que os alimentos estejam garantidos para todos. O alemão Werner Aeschbach-Herti diz que "a questão é urgente em algumas regiões, onde a queda dos níveis de água torna cada vez mais difícil o suprimento para irrigação. Isso pode causar um impacto na produção da agricultura e no mercado de alimento". De acordo com a publicação, cerca de 90% de toda a água usada no mundo tem como destino as plantações irrigadas, responsáveis por 40% da produção global de comida.

A falta de equilíbrio no sistema causa prejuízo na vegetação das regiões exploradas e ainda influencia no aumento dos níveis do oceanos. A redução do volume no subterrâneo ainda pode induzir o fluxo do líquido, que sofre um processo de salinização e poluição, com o deslocamento para outras áreas.

Isso acontece porque a recuperação dessas fontes costuma ser mais lenta que a velocidade de extração. A conta, no entanto, é mais complicada do que parece. A interferência em um aquífero muda o ritmo de produção de água, criando um equilíbrio dinâmico e difícil de ser mantido. Parte da água usada na irrigação também retorna a terra pela evapotranspiração, mas esse processo não pode ser medido com precisão.
 Estima-se que cerca de 1,5 trilhão de litros de água sejam retirados do solo todos os anos. O volume representa somente um décimo do volume produzido pelo planeta no mesmo período. Parece pouco, mas, mesmo que a exploração retire apenas uma fração do que é criado, a concentração dos poços em determinadas regiões põe em risco todo o sistema. Um aquífero pode levar horas ou anos para voltar ao seu salto de água original, mas, se o dano for muito profundo, é possível que ele nunca volte ao normal, e aquela fonte seja perdida.



O perigo é para todos. Contudo, o esgotamento do aquífero atinge áreas semiáridas e úmidas de uma forma mais intensa do que regiões carentes de água. Isso ocorre porque a exploração acaba influenciando mais que os fatores climáticos. Entre os locais com depósitos mais afetados está o nordeste da China, o oeste dos Estados Unidos, o norte da África e países como México Irã e Arábia Saudita.
São locais prejudicados pela alta concentração da exploração, como as grandes planícies norte-americanas, onde um terço de todo o consumo do recurso se reúne em apenas 4% da região. Mesmo procurando seguir um ritmo constante e seguro de extração muitos agricultores levaram à extinção de aquíferos e à degradação ecológica.

O ponto mais prejudicado pela extração desenfreada é a Planície Indo-Gangética, que inclui partes do Paquistão, o norte da Índia e Bangladesh. Mais de 1 bilhão de pessoas vivem na região. O problema teve início nos anos 70, quando a tecnologia permitiu que os agriculturas abandonassem a exploração dos rios e criassem milhões de poços sem qualquer regulação.
Somente na Índia, a agricultura consome o dobro de água subterrânea que os Estados Unidos ou a China. Essa falta de cuidados tem levado a uma diminuição de mais de 1m no nível dos aquíferos todos os anos.
Em pouco tempo é possível que alguns deles sejam reduzidos a volumes tão pequenos que tornem seu uso inviável, um quadro que muitas vezes não pode ser revertido.


No Brasil, os níveis de exploração permanecem relativamente baixos, devido ao clima úmido da maior parte do território e à alta oferta de água superficial. Mas a má gestão dos recursos naturais pode colocar em risco essa abundância. " um exemplo disso é o Distrito Federal, que tem uma situação de abastecimento bastante delicada. Produzimos praticamente a mesma quantidade de água que consumimos, e somos, infelizmente, uma população mal-educada, com um histórico de desperdício", lamenta Gustavo souto Maior professor do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília (UNB).

De acordo com o engenheiro, além do uso consciente da água, é necessário uma regulação rígida sobre a criação e exploração de poços artesianos no país. "São milhares de poços abertos sem o melhor controle por parte do poder público. Esse controle tem de ser feito não somente pela quantidade de água retirada, mas também pela qualidade, da água, pois muitos poços são abertos em locais inapropriados, como próximo a áreas com esgoto", afirma o engenheiro. Um dos pontos do DF mais prejudicados pelo uso indevido é a Bacia do Rio Preto, onde há grande produção agrícola.

 A falta de controle é uma questão mundial, o que torna difícil medir a dimensão do problema. Sem supervisão de agências reguladoras, muitos produtoras de diversos países recorrem a soluções técnicas que buscam aumentar a eficiência da irrigação e até mesmo repor a água retirada, mas essas estratégicas não são suficientes.


Cada caso exige uma análise especializada, que leve em conta os aspectos geológicos, econômicos e sociais da região para criar um plano de longo prazo. Entre as medidas que podem ser utilizadas, estão a divisão de grandes plantações em campos menores e a irrigação combinada com água de rios e outras fontes superficiais.

Um exemplo positivo é o Texas, nos Estados Unidos, que passou a manter o planejamento de seu sistema subterrâneo ao menos 50 anos adiantado, com objetivos como a manutenção de fontes especiais para o equilíbrio ecológico ou a preservação de determinado fluxo. E, a cada cinco anos, a estratégia passa por adaptações baseadas em avaliações regulares.

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