sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Passagem aérea mais cara


É paradoxal. Em país de dimensões continentais como o Brasil, o transporte aéreo torna-se proibitivo para a maior parte da população. Reportagem publicada pelo Correio Braziliense, na edição de ontem, apresentam números que espantam. Uma passagem de Brasília a uma capital do Nordeste no fim do ano custa mais de R$5 mil sem incluir as taxas aeroportuárias.
Em bom português: um casal com dois filhos que se aventure a passar as festas de réveillon em praia da região precisará desembolsar R$20 mil só para ir e voltar. Somadas as demais despesas - hotel, alimentação, lazer, transporte -, o valor da saidinha se aproxima ao de um carro popular novo ou de um semiusado.



Não surpreende, pois, que o brasileiro prefira ir ao exterior a visitar  o país. Viagem a Londres ou a Paris no mesmo período , por exemplo, fica entre R$ 4,3 mil e R$ 4,7 mil. Os preços médios internos ficam aquém dos cobrados aqui. O abuso na cobrança das passagens aéreas, assim, desestimula o turismo interno. Prejudica a cadeia de serviços à indústria sem fumaça que poderia movimentar milhões de dólares.
Mesmo a pesquisa de tarifas, que poderia proporcionar ao consumidor custo mais baixo, torna-se inviável. A concentração do setor se assemelha a cartel. O encerramento das atividades da Webjet, engolida pela gol, e a união da azul com a trip resumiram a oferta a quatro companhias. TAM e Gol, líderes do mercado, abocanham mais de 70% das passagens.

Têm o poder, assim, de influenciar fortemente a fixação das margens. As duas outras empresas - Avianca e Azul - freiam um pouco o apetite do quase duopólio, mas não tem condições de assegurar patamar de efetiva concorrência. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), criada para regular e fiscalizar as atividades da aviação civil e de infraestrutura aeronáutica e aeroportuária, mantém-se à margem do debates.

A eficiência do setor parece não lhe dizer respeito. O Cade, que deve zelar pela livre concorrência, também se mostra alheio ao problema. O ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencour, foi além da indiferença. Segundo ele, a culpa das tarifas exorbitantes é do passageiro - que compra a passagem sem a devida antecedência.

Vale a pergunta: Se todos comprassem o bilhete no mesmo dia e na mesma hora pagariam preços mais baixos? A lógica de quem deveria se preocupar com o cidadão responde que sim. A do cidadão, que sofre os efeitos do descaso, diz que não. Impõe-se modernizar o capitalismo que movimenta a aviação. Se a demanda cresceu, a oferta tem de acompanhar a procura. A concentração vai na contramão do interesse do consumidor, dos cidadãos de todo o país.

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