segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Teste da linguinha





Mesmo recém-chegados ao mundo, os bebês precisam passar por uma bateria de exames. A saúde frágil deve ser avaliada por meio de investigações, como o teste do olhinho, do pezinho e da orelhinha. Agora, mais uma parte do corpo será incluída nesta lista. Criado pela fonoaudióloga Roberta Martinelle e apresentado no mês passado, durante o 20º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia, o teste da linguinha tem por objetivo identificar, logo nos primeiros dias, alterações no frênulo lingual. Em outras palavras, diagnosticar a língua presa.


De acordo com a especialista, o problema afeta mais de 16% dos recém-nascidos. Ainda assim, não é facilmente detectado pela maioria dos profissionais de saúde. "Alguns defendem que se deve esperar até que a criança complete cinco anos de idade, mas temos que ser firmes para reforçar que não é assim", diz a especialista.

De imediato, a língua presa em bebê pode ter consequências importância. Embora não deixam de mamar, eles o fazem com muito mais trabalho. Esse esforço extra causa estresse tanto para o bebê quanto para a mãe, que vê o filho com fome.

Rápido, indolor e eficaz, o teste já é feito desde 2010, em Brotas-SP. Cerca de 800 crianças já foram avaliadas. O objetivo, agora é incentivar que o exame se espalhe por todo o Brasil. Um protocolo foi criado para diagnosticar em bebês a presença da língua presa e o grau de limitação dos movimentos causado pelo problema. Esperamos que a obrigatoriedade vire lei. Conheça um pouco mais sobre o assunto:






O que é
O frêmulo lingual(ou freio) é uma estrutura localizada debaixo da língua. Ele liga a língua ao assoalho da boca e tem como função principal possibilitar, ou interferir, na livre movimentação da língua.





Como acontece

  1. Durante o período embrionário, a língua fica presa ao assoalho da boca, envoltada por uma membrana
  2. Ao longo do desenvolvimento humano, essa membrana é reabsorvida em um processo chamado apoptose( do grego, o termo quer dizer algo como "morte de algo para dar vida a outra coisa").
  3. Livre da membrana a língua fica solta para realizar suas tarefas principais, como mamar, mastigar e falar.
  4. O problema é que a membrana pode desaparecer integralmente ou não. Quanto menos ela some, mais presa fica a língua.
O que causa
  • Ainda não se tem certeza sobre a origem do problema. Os médicos, contudo, sabem que existe influência genética.
Como é feito o teste
  • Primeiro, os fonoaudiólogos fazem uma avaliação a olho nu do frênulo do bebê. Casos mais acentuados são vistos logo na primeira análise.
  • Os profissionais passam a observar como é a mamada do bebê e como a língua se comporta enquanto ele chora (se fica elevada, na linha média ou abaixada).
  • Com os dedos indicadores direito e esquerdo, os profissionais elevam as margens laterais da língua para observar a espessura e a fixação do frênulo no assoalho da boca.
  • Os especialistas, então, avaliam a funcionalidade anatômica: primeiro, observam a postura dos lábios em repouso e a tendência do posicionamento da língua durante o choro. Lábios abertos e língua baixa durante o choro são indicativos de língua presa.
  • Na observação das funções orofaciais, os médicos filmam um sessão de sucção nutritiva(amamentação) e uma não nutritiva (sucção do dedo mínimo). Nas duas avaliações, os fonoaudiólogos observam o ritmo de sucção, o tempo da pausa entre uma sucção e outra, e se havia coordenação entre os movimentos de sugar, deglutir e respirar. Quanto menor o tempo entre uma mamada e outra, maiores as chances de língua presa.
Sintomas
  • Muitas mamadas ao dia, em pequenos intervalos.
  • Bebês que dormem muito.
  • Durante a mamada, os bebês mordem e/ou soltam muitas vezes o mamilo da mãe.
  • Frênulo espesso e visível apenas com manipulação.
  • Profusão(capacidade de esticar) da língua limitada e descoordenada.
  • Excesso de saliva.
  • Boca constantemente entreaberta.
  • Pequenos estalos da língua durante a mamada.
Consequências
  • Desmame precoce
  • Comprometimento de funções básicas da língua, como mastigação,sucção, deglutição e dicção.
  • Flacidez dos músculos da boca e dos lábios.
  • Na adolescência e na idade adulta, a língua presa pode causar constrangimento social.

Tratamento
Frenotomia lingual: cirurgia em que os médicos fazem a secção do freio para corrigi-lo.

Palavra do especialista

Alterações no frênulo lingual podem ter consequências na saúde? Quais?
Com o avanço da idade, as crianças podem ter problemas na fala. Elas também passam a preferir coisas que são mais fáceis de mastigar e de engolir, já que a língua não tem a movimentação normal, que leva os alimentos para os dentes posteriores. Se a língua está presa, ele fica mais na frente da arcada inferior, sem movimento de laterização. Quando a criança está comendo, não se percebe essa dificuldade, ma basta observar o que ela come (bolachas, leite, iogurte) para descobrir. Como consequência, eles podem ficar mal-alimentados, porque mastigar carne é difícil, por exemplo. As crianças acabam preferindo alimentos com mais carboidratos, que são mais fáceis de dissolver na boca.

Um adulto que não se submeteu à cirurgia corretiva vai, necessariamente, ter problemas na fala?
Ele falará com distorção. Não vai trocar letras, mas vai distorcer o som de algumas, especialmente o "r", que é dito com a ponta da língua. Isso pode causar problemas sociais, familiares ou profissionais. Aplicamos alguns questionários em adultos e vários deles disseram que a área mais prejudicada é o trabalho, principalmente quando vão concorrer a alguma vaga que necessite do uso constante da voz. Na adolescência, a maior interferência é a social, atrapalhando amizades e namoros. Tornam-se adolescentes menos falantes.

A língua presa é ocasionada por uma falha durante o desenvolvimento embrionário. Porque, em algumas pessoas, a apoptose não ocorre de forma completa?
Ninguém sabe ao certo ainda, mas alguma coisa impede que ela aconteça até o fim, por isso é tão difícil diagnosticar. Como há uma variação muito grande e a apoptose pode parar a qualquer momento, há também uma variação imensa no grau da língua presa.
                         
Irene Marchesan é presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia(SBF)

Assista os vídeos abaixo para entender melhor sobre o assunto. Assista outros vídeos ou procure se informar em textos sobre o assunto. Divulgue sobre isso para outras pessoas.









Fonte: Correio Braziliense/Saúde

Nenhum comentário:

Postar um comentário

▲ Topo